quinta-feira, 12 de março de 2009

Palavras roubadas - DOIS


Cara Estranho

Composição: Marcelo Camello

Olha só, que cara estranho que chegou
Parece não achar lugar
No corpo em que Deus lhe encarnou
Tropeça a cada quarteirão
Não mede a força que já tem
Exibe à frente o coração
Que não divide com ninguém
Tem tudo sempre às suas mãos
Mas leva a cruz um pouco além
Talhando feito um artesão
A imagem de um rapaz de bem

Olha ali quem tá pedindo aprovação
Não sabe nem pra onde ir
Se alguém não aponta a direção
Periga nunca se encontrar
Será que ele vai perceber
Que foge sempre do lugar
Deixando o ódio se esconder
Talvez se nunca mais tentar
Viver o cara da TV
Que vence a briga sem suar
E ganha aplausos sem querer

Faz parte desse jogo
Dizer ao mundo todo
Que só conhece o seu quinhão ruim
É simples desse jeito
Quando se encolhe o peito
E finge não haver competição
É a solução de quem não quer
Perder aquilo que já tem
E fecha a mão pro que há de vir

domingo, 8 de março de 2009

Nada

Sou dos adeptos de que os ignorantes são felizes, pois não conseguem ver a podridão do mundo.

Estou farto de sempre ser excluído por não se o mais simpático, por nem sempre conseguir manter meu sorriso de comercial da Doriana, por muitas vezes ser ríspido para estimular uma raciocínio mais profundo.

Farto de não ser o que acham, o que pareço, o que eu espero. Farto de não ser o que sou nem de ser o que não sou. Estou farto de simplesmente não ser.

Não sou o feliz, não sou o deprimido.
Não sou o chato, não sou o legal.
Não sou o burro nem o inteligente.
Não sou o amigo, nem o inimigo.
Não sou o som, não sou o silencio.
Não sou nada, não sou tudo.

Simplesmente não sou.

Será que as pessoas não conseguem perceber o quanto eu me importo com elas, ou eu que não sei demonstrar?

Acho que é triste ser.
Gotaria de apenas ter, e de parecer.

Gostaria de ser o modelo que cabe na sociedade.
Gostaria de ser como ele, como você.
Mas ao mesmo tempo odiaria ser como ele ou como você, mas odeio muito mais ser eu.

O que se fazer quando casamos de ser o que somos?

Mudar? Como?

Mudar não é fácil quando todos te dizem com a boca que te apoiam mas com atos inistem em te deixar invisivel.

Não tenho forma, não tenho cor, não tenho dentro, muito menos fora.

Sou nada, que vem do nada e acaba no nada.
Sou o que não quero ser, sendo o que espero ser.
Estou como eles querem sendo como não querem.

Não sou, nem estou, não vou....

Sou o não.
A negação.
Sou o frio.

Sou a parte feia e chata de todos, e não consigo demonstrar a minha parte bela e agradável.
Sou o espelho do feio, do meu e do seu.
Um espelho sem o metal, espelho que não ilude, e por isso me mostra de forma mais feia ainda.

Sou o erro, sou a arrogancia, sou a certeza incompreendida e a dúvida absorvida.

Não quero, não espero, não.

Simplesmente não.

Pena que aparentemente o mundo é feito de tantos sim, que não deixão espaço para o não, para o talvez, muito menos para o nunca.

Digo não a tudo, e não a nada.

Quero dizer não ao sim que vem de sua alma hipócrita, de seus verbos nulos de valor, ao seu sorriso fora de orbita, ao seu encanto que lhe cai perfeitamente como uma maquiagem que mente tanto para quem a vê, que chega a acreditar que essa é a verdadeira cor de sua pele. Suas olheiras são maiores que a minha, mas essa maquiagem te protege, e te protegerá até o momento que a gota de falsidade e incoerência que você diariamente cospe para cima, lhe caia em forma de uma tempestade e leve suas cores para a lama mais suja que tiver.

Não sou a cor, não sou o preto nem o branco.

Sou o nada, que está dentro dele, dentro de você. Sou o nada que ainda está por escurecer.

sexta-feira, 6 de março de 2009