domingo, 18 de janeiro de 2009

Estranhamento

Estranho ver que antes eu que me achava uma pessoa que sabia viver a vida, uma pessoa que entendia o verdadeiro significado de viver, agora não passa de um medíocre que fica se lamentando pelo fato de não saber viver, ou pelo fato de ficar vendo a vida passar por sua janela.

Meus valores já não são tão fortes quanto antes, minhas convicções caem por terra apenas com uma brisa de questionamentos, meus sentimentos são todos mesquinhos.

Sempre sou aquele que fala as coisas chatas, sou sempre aquele que prefere apontar um defeito para fazer a pessoa melhorar, sou sempre aquele que tem algo contra, mas que na verdade, sempre torce a favor.

Claro que a visão que temos de nós mesmo, muitas vezes é distorcida pela nossa interpretação de como queremos ser e de como realmente somos. E isso acaba gerando uma série de incoerências.

Digo isso, pois sempre me sinto muito presente quando meus amigos precisam de um apoio, ou por estarem passando por uma fase ruim, ou por terem novos planos. Sempre estou eu lá para apoiar, para mostrar como as coisas realmente são(não digo isso com a prepotência de ser o dono da verdade), de falar que eles vão conseguir. Já quando eu preciso deste suporte, destas palavras verdadeiras junto com um incentivo verdadeiro, as únicas coisas que ouço são os apontamentos dos problemas de meus planos, a verdade ácida das possíveis consequências. Geralmente essas verdades já são de meu conhecimento, a questão é que não é de meu conhecimento, o quanto sou apoiado. E na maioria das vezes, fico sem saber.

Sei o quanto isso pode soar de forma pedante, e choramingas, mas é assim que eu sou.

Eu com minhas atitudes medíocres sempre busco a grandeza, e sempre me machuco ao perceber que cada vez mais me afundo no lodo.

Mais do que nunca esse é um Pensamento Raso, que não deve ser levado tão a sério, mas que se desacreditado ele se tornará a mais pura constatação do quão sério ele é.

Palavras roubadas - um

Poema em linha reta

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.